RETROSPECTIVA 2014: Um ano que marcou a indústria de alumínio no Brasil

2014 é um ano que a indústria brasileira de alumínio não vai esquecer – mas não por bons motivos.

2014 é um ano que a indústria brasileira de alumínio não vai esquecer – mas não por bons motivos.

Em resumo, os desafios que já vinham afetando o setor em tempos recentes simplesmente ficaram piores.

Altos custos de energia e outros problemas relacionados à infra-estrutura por fim levaram a cortes relevantes de capacidade de produção de alumínio primário em 2014.

Isso resultou em mudanças significativas para a indústria brasileira de alumínio. A Metal Bulletin discute algumas dessas mudanças abaixo.

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O que mudou em 2014?

1. Pela primeira vez em mais de duas décadas, a produção brasileira de alumínio primário deve ter ficado abaixo de 1 milhão de toneladas.

A associação brasileira do alumínio, Abal, estima queda de 25% na produção primária em 2014, para 978 mil toneladas, reflexo da série de cortes de capacidade.

AlcoaBHP Billiton e CBA, da Votorantim Metais, reduziram sua produção no ano passado, enquanto a Novelis anunciou a completainterrupção de sua produção de alumínio primário no Brasil para focar no seu negócio principal de laminados e reciclagem.

A exceção tem sido a Albras, que tem mantido seus níveis de produção em vista de compromissos de exportação com o Japão, de acordo com fontes.

A empresa é controlada 51% pela Norsk Hydro e 49% pelo consórcio japonês Nippon Amazon Aluminium Corp (NAAC).

De acordo com a Abal, os altos custos de energia têm tornado “economicamente inviável” produzir alumínio primário no Brasil.

O item energia representava 55,4% dos custos totais de produção no país no final de 2013, comparado a 26,7% em 2001, segundo dados da associação.

O crescente risco de racionamento de energia e rodízio de água também são fatores que preocupam a indústria.

2. Brasil se torna importador líquido de alumínio, deixando para trás seu papel histórico de fornecedor global do metal.

A queda na produção doméstica levou participantes da indústria de alumínio a ampliar as importações do metal e fez com que o governo anunciasse uma isenção temporária na tarifa de importação do produto.

Em 2014, as importações brasileiras de alumínio primário não ligado e de ligas de alumínio em forma bruta excederam as exportações em 48,9 mil toneladas, de acordo com dados do ministério de indústria e comércio exterior, MDIC.

Já em 2013, as exportações superaram as importações em 315,8 mil toneladas, também segundo o MDIC.

“O setor de alumínio primário no Brasil está deixando de ser indústria e está se tornando importador e distribuidor de metal”, disse uma fonte à Metal Bulletin.

A fonte também expressou preocupação com a rapidez dessa transformação.

“É uma reestruturação rápida, enorme e preocupante, já que ninguém tem uma indicação muito clara do que vai acontecer daqui para frente”, avaliou.

O Brasil importou um total de 363.268 toneladas de alumínio primário em 2014, mais que o triplo do volume adquirido um ano antes, 104.129 toneladas, de acordo com dados do MDIC.

Já as exportações somaram 314.357 toneladas em 2014, 25% menor que as 419.973 toneladas vendidas ao exterior em 2013.

3. Demanda mais fraca que o normal tem limitado prêmios.

Fontes da indústria ficaram desconcertadas com o cenário geral de falta de interesse comprador em 2014, especialmente no segundo semestre.

Eventos como a Copa do Mundo, em junho e julho do ano passado, e a eleição presidencial em outubro foram citados como fatores que limitaram a atividade.

O fraco desempenho da economia brasileira levou a uma demanda menor que a esperada por metais, especialmente em setores como automotivo e de construção civil.

Essa dinâmica fez com que boa parte do mercado – tanto produtores, traders e consumidores – entrasse em 2015 com altos níveis de estoque, o que ajuda a explicar a fraca atividade no mercado spot de alumínio do país.

De acordo com fontes do setor, a combinação de fraca demanda e estoques elevados tem sido responsável por limitar o avanço dos prêmios no país, apesar da queda na produção doméstica e dos níveis mais elevados de prêmios globais.

A última pesquisa semanal da Metal Bulletin mostrou prêmios de lingote P1020A estáveis, na faixa de US$600 a US$650 por tonelada para o metal entregue na região de São Paulo.

Isso representa um aumento de aproximadamente 18% em relação ao início de 2014, segundo dados da Metal Bulletin.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, o prêmio midwest mais que dobrou em um ano.

4. O pior já passou?

Grande parte do setor parece acreditar que a maioria dos cortes de capacidade na indústria brasileira de alumínio já foram feitos.

Mas também existe clara percepção de que se o cenário para energia no país continuar se deteriorando, o mercado poderá ver ajustes adicionais na produção em 2015.

A expectativa é que a demanda mostre melhora neste ano, segundo fontes.

“Mas eu não esperaria uma melhora muito significativa no primeiro semestre”, disse uma fonte da indústria.

“A melhora seria mais para o segundo semestre, e isso se acontecer de fato”, acrescentou.

O alto nível de incertezas sobre demanda e fornecimento de matéria-prima em 2015 levou muitas negociações de contratos a serem adiadas.

“A verdade é que eu nem sei ao certo quanto metal vamos precisar para 2015, depois de tudo que aconteceu no ano passado”, disse um comprador de alumínio primário.

Além disso, participantes também passaram a considerar a inclusão de prêmios regionais como o Metal Bulletin aos modelos de precificação de contratos, na medida em que buscam alternativas para se proteger das variações do mercado.

Os prazos também mudaram: ao passo que ficaram mais escassos contratos com preço firme para o ano todo, a maior parte das negociações tem considerado revisão em prazos mais curtos, como em base trimestral.

“Estamos vendo uma transformação em curso e um cenário de muitas incertezas”, disse um trader.

“No fundo, está todo mundo com medo de perder dinheiro”, acrescentou.

Danielle Assalve 
danielle.assalve@metalbulletin.com
Twitter:dassalve_mb